A propósito da sua distinção na iniciativa “COVID-19: Continuity in Care for Patients with Metastatic Breast Cancer”, inserido no programa “Pfizer Global Medical Grants” (GMG), a News Farma esteve à conversa com a Dr.ª Marta Sousa, diretora do Serviço de Oncologia Médica do Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro (CHTMAD), e com a Dr.ª Sílvia Duarte, coordenadora do projeto vencedor e médica interna da formação específica (IFE) de Oncologia Médica na mesma instituição. As especialistas esclareceram os objetivos do projeto de apoio domiciliário a doentes com cancro da mama metastizado sob tratamentos orais, assim como os desafios que antecipam, dada a extensa área de cobertura do CHTMAD.
A ideia de concorrer ao projeto, para organizar uma equipa domiciliária de apoio aos doentes com cancro da mama metastizado sob terapêuticas orais, foi lançada pela Dr.ª Marta Sousa, cuja candidatura foi tornada uma realidade pela Dr.ª Sílvia Duarte. A sua aprovação representa, assim, a concretização de uma das ambições do Serviço de Oncologia Médica do CHTMAD, bem como uma mais-valia para os doentes oncológicos ali acompanhados.
“Este projeto é a concretização de um sonho, e a Pfizer deu-nos essa oportunidade. É ambição do serviço ter consultas ao domicílio, e não foi possível até agora, nomeadamente por questões de recursos humanos. Com este projeto, vamos poder recrutar pessoas que vão trabalhar fora do seu horário de trabalho e a minha esperança é que, depois das conclusões a que vamos chegar, não vamos querer que ele acabe”, sublinha a Dr.ª Marta Sousa.
Além dos desafios logísticos e de recursos humanos, colmatados com a cobertura de todos os custos envolvidos pela bolsa da Pfizer, acresce a área de influência do Serviço de Oncologia Médica, que cobre deste o distrito de Vila Real e Bragança, ao norte do distrito de Viseu. Com uma população de aproximadamente meio milhão de habitantes, cerca de 1500 utentes com cancro da mama são seguidos no CHTMAD. Desses, cerca de mil encontram-se sob tratamentos orais, desde hormonoterapia oral, inibidores das ciclinas e quimioterapia oral.
“Foi com base nestes números que propusemos uma candidatura de constituição de uma equipa de apoio domiciliário, que visa evitar o contacto do doente oncológico com instituições de saúde. Parte desses contactos conseguimos ultrapassar através das consultas telefónicas; no entanto, o doente tinha que se deslocar para fazer análises, para fazer os testes à COVID-19, para levantar medicação, e é nesse sentido que esta equipa surge”, sustenta a Dr.ª Sílvia Duarte.
A equipa, constituída por dois elementos de enfermagem da unidade, com experiência no tratamento de doentes oncológicos, auxiliará o tratamento a partir do domicílio, tanto no que toca “estes procedimentos mais práticos, mas também na avaliação de sintomas e de toxicidades, de suporte psicológico, e de confirmação da adesão terapêutica, tudo isto monitorizado pelo médico assistente”, refere a especialista, adiantando que “tem que haver sempre um canal de comunicação aberto entre os oncologistas, que tratam destas doentes, e a equipa de enfermagem, que se desloca ao domicílio e presta os cuidados em proximidade”.
Para a Dr.ª Marta Sousa, o projeto, neste momento em fase de recrutamento de doentes que cumpram os critérios, torna-se uma mais-valia também no que toca a oportunidade de conhecer a realidade onde o utente vive, já que “o doente é um conjunto, não é só a sua doença; é a sua doença, o seu ambiente, a sua família, e é possível ter intervenções que podem ser muito importantes no sucesso da terapêutica”, como é o caso da aproximação dos familiares e cuidadores ao tratamento, o que também facilita à sua adesão.
A Dr.ª Sílvia Duarte acrescenta: “Sabemos que há doentes que têm mais dificuldade e a equipa de enfermagem no domicílio consegue ter uma perceção real de que o doente está a fazer a medicação certa, na dose certa, à hora certa, e que a cumpre regularmente; e, se não a cumpre, porquê”.
A iniciativa é também relevante dentro do contexto de pandemia em que nos encontramos, na medida em que “há doentes que estão sintomáticos e omitem os sintomas para não terem que vir ao hospital, porque têm medo de ser infetados pelo SARS-CoV-2. Não vindo, dificilmente conseguimos avaliar se o tratamento está a correr bem ou não”, sustenta a Dr.ª Marta Sousa. Há ainda o perigo de contágio nas salas de espera e nas ambulâncias, para muitos doentes o único transporte disponível nas deslocações à unidade de saúde.
“Com a combinação da equipa domiciliária e da consulta telefónica, o doente praticamente não precisa de se deslocar ao hospital para dar continuidade aos seus tratamentos. Mesmo neste contexto de pandemia, o malefício da sua suspensão seria superior a um eventual risco de infeção pelo SARS-CoV-2, e acaba por ser um benefício para as nossas doentes”, esclarece a Dr.ª Sílvia Duarte.
Findo o projeto, que tem a duração prevista de um ano, será feito “um processo de avaliação interna, não só em termos de atividade, mas também em termos do grau de satisfação dos doentes e, se for um projeto com resultados positivos, quem sabe poderemos mantê-lo indefinidamente e abrangê-lo a todos os nossos doentes”, afirma a coordenadora da candidatura vencedora.