110 mil com Alzheimer: Mulheres são as que mais sofrem

fonte: Correio da Manhã
Por: Débora Carvalho

Esquecer a idade, o aniversário ou alguém muito querido, arrumar e desarrumar vezes sem conta e repetir o que já se disse são situações partilhadas por doentes de Alzheimer. A memória é roubada no somar dos dias e os sinais da doença são, muitas vezes, confundidos com o envelhecimento.

Em Portugal, estima-se que a doença de Alzheimer afete cerca de 110 mil pessoas, de acordo com a associação Alzheimer Portugal (AP). Em todo o Mundo, são 19 milhões de doentes.

As mulheres são as que mais sofrem com este tipo de demência. A genética, a idade e patologias como hipertensão arterial e diabetes são alguns dos fatores de risco da doença neuro-degenerativa.

"O principal impacto é a perda de autonomia e segurança. Os doentes vivem sem referências de tempo e espaço e sem lembranças do presente e do passado", explica ao CM Olívia Robusto, médica psiquiatra, que lamenta a inexistência de cura da doença. "Tratamos a doença de uma forma ainda muito insuficiente. Não podemos fazer prevenção sem saber a causa ou causas do Alzheimer". Olívia Robusto recomenda um "pacote terapêutico" para retardar e prevenir o agravamento da doença: "Socialização, estimulação cognitiva e uma dieta adequada".

No Serviço Nacional de Saúde não há tratamento especializado para os doentes, explica Carneiro da Silva, presidente da AP. "O Governo tem muito a fazer. Faltam unidades de saúde de cuidados nesta doença e especialização nas já existentes", afirma o especialista. n


"HÁ O RISCO DE O DOENTE SE PERDER" in DISCURSO DIRETO: Carneiro da Silva, Pres. Alzheimer Portugal

Correio da Manhã – Como devem ser acompanhados os doentes?

Carneiro da Silva – O doente deve ter espaços amplos para circular e atenção permanente de dia e de noite, pois há o risco de se perderem. Os centros de dia são uma boa opção para os familiares que não podem ser cuidadores.

– Os familiares conseguem suportar o custo de um lar?

– Há pessoas que já nem suportam pagar 80 euros num centro de dia. Num lar, o custo médio é de 2500 euros. É insustentável.

– Não há alternativas?

– Muitos dos lares tradicionais não têm especialidade nestes cuidados continuados. A Segurança Social devia apoiar mais. Nos apoios existentes, os valores são inferiores aos custos reais.

"MUDANÇA AFETOU A FAMÍLIA TODA"

"A minha mãe arrumava e desarrumava a carteira vezes sem conta. Quando ia ao cabeleireiro tinha dificuldade em encontrar o lugar onde tinha estacionado o carro e os caminhos começaram a ser lugares desconhecidos". A descrição é de Rita de Vasconcellos, de 56 anos, residente no Estoril, que explica como surgiu o Alzheimer na vida da mãe, Maria Augusta.

"A minha mãe teve os primeiros sintomas aos 60 anos e esta mudança afetou a família toda. Quando deu conta de que estava a perder faculdades, agarrou-se à repetição de dados em cadernos e folhas de papel para não esquecer", conta Rita, arquiteta. Maria Augusta, hoje com 73 anos, dedicou a vida a ensinar Yoga e é acompanhada pelos três filhos, que lhe prestam toda a atenção possível. 

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