Tratar avós com carinho é respeitar a própria velhice

Atenção, afeto, respeito, comunicação, companhia e integração são alguns dos ingredientes que devemos ter na relação com os idosos, que cada vez mais estão expostos a abusos, maus-tratos e negligência, devido à sua crescente dependência.
Como está jovem.... Não aparenta a idade que tem...! Quando alguém faz um comentário como esse, aparentemente elogioso, na verdade está expressando exatamente o contrário: que o bom é ser jovem, que a sociedade aprecia a juventude e que a velhice é praticamente um defeito.
Às vezes são os próprios idosos que menosprezam a sua condição de velhos, ao pronunciar frases como "na minha época..." ou "quando eu tinha a sua idade"...  Significam que os bons momentos ficaram para trás e que estão excluídos dos tempos atuais.
São frases que refletem o desconcerto, tanto das pessoas em idade avançada como de seus familiares e entes queridos, perante a velhice. Um desconhecimento que frequentemente está por trás dos maus-tratos aos idosos. Os abusos às pessoas idosas ocorrem em qualquer classe social. Em mais de metade dos casos, quem pratica o abuso são os filhos, e as vezes, são os cônjuges.
O progressivo envelhecimento da população (mais doenças, mais dependência, mais necessidade de cuidados...) contribuirá para que esse problema aumente nos próximos anos. O conceito de maus-tratos inclui o abuso físico, psíquico, sexual e económico, ainda que o mais comum seja a negligência, causada por omissão na provisão dos cuidados que o idoso necessita.
Segundo Espinosa, do ponto de vista psicológico, existem três tipos de praticantes de abusos: os hostis, porque foram maltratados pelo idoso de quem agora cuidam; os autoritários, que são intransigentes com as incapacidades das pessoas velhas; e os economicamente dependentes dos idosos". Nos casos de negligência, o sinal mais frequente é o descuido, a falta de higiene (sobretudo em contraste com o cuidador), desnutrição, roupas inadequadas, etc.
No caso dos maus-tratos físicos, os profissionais devem suspeitar de contusões nos punhos e ombros, hematomas, queimaduras e inclusive repetidas quedas e fraturas múltiplas.
Quando o abuso é psicológico, os idosos apresentam confusão, medo, prantos injustificados e depressão. "Às vezes, quando chegamos a casa, observamos uma atenção extrema por parte do cuidador, bastante preocupado com tudo que o cerca, mas, ao mesmo tempo, o olhar do idoso pede ajuda".
O primeiro passo para tratar adequadamente os idosos é aceitar que todos nós seremos idosos. Não podemos ignorar que nos aproximamos, sem pressa, mas inexoravelmente, da chamada terceira idade. A partir dessa tomada de consciência, é preciso respeitar o ritmo, valores, condutas, desejos e organização de vida dos idosos. Isto não significa estar sempre de acordo com eles, mas sim buscar o consenso. O idoso tem o direito e a liberdade de escolher como quer viver, e não há razões para impormos os nossos critérios sobre a sua existência.
Temos que manter uma postura aberta, positiva e sem preconceitos. Temos que perceber como se sentem e vivem, o que querem e gostam, como percebem suas lembranças e experiências. Temos que escutar os idosos com apreço, consideração, proximidade e atitude de companheirismo. Além disso, temos que dar muito carinho, porque nessa idade valorizam o afeto mais do que nunca. O carinho manifesta-se com dedicação, gestos, olhares e na maneira afetuosa como falamos. Os idosos que têm alguma forma de demência e que já não estão conscientes de muitos aspectos ao seu redor, dão sempre conta do afeto, da proximidade e do carinho dos entes queridos. Um sorriso, uma palavra amável, um gesto afetuoso, um abraço, uma audição atenta, uma mão nas costas, um olhar ou um aperto de mão carinhoso, são coisas que podem atingir a alma e preencher de alegria o coração de nossos entes queridos e enfermos.

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