Os enfermeiros enquanto agentes de educação para a saúde



autores: Ana Bernardino, Cátia Machado, Elsa Alves, Hélder Rebouço, Renata Pedro, Pedro Gaspar;


A promoção da saúde em geral e a Educação para a Saúde (EpS) em particular, devem ser encaradas como tarefas de cidadania organizadas, em que se verifique a participação activa dos cidadãos. Não obstante esta necessidade de participação colectiva, os enfermeiros desempenham um papel relevante enquanto agentes de EpS.


Após Alma-Ata e do período de questionamento do modelo biomédico que se lhe seguiu e procurou esclarecer que o centro da atenção da enfermagem deve estar voltado para a promoção da saúde e prevenção da doença na pessoa vista como um todo, inserida na família e comunidade e interagindo com os profissionais de saúde (CARVALHO e CARVALHO, 2006), a EpS tornou-se cada vez mais importante na enfermagem (LASH, 1990), profissão que na área da saúde tem como objectivo prestar cuidados de enfermagem ao ser humano, são ou doente, ao longo do ciclo vital, e aos grupos sociais em que ele está integrado, de forma que mantenham, melhorem e recuperem a saúde, ajudando-os a atingir a sua máxima capacidade funcional tão rapidamente quanto possível (Regulamento do Exercício Profissional dos Enfermeiros, 1998). E neste sentido, o papel do enfermeiro passa por possibilitar a autonomia, criar oportunidades, reforçar convicções e competências, respeitando as decisões e os ritmos de aprendizagem dos utentes, num processo de crescimento e desenvolvimento.


Todo o enfermeiro deve ser, por inerência das suas funções, um educador para a saúde. No que diz respeito ao conteúdo funcional de todas as categorias da Carreira de Enfermagem (Decreto-Lei n.º 437/91 parcialmente alterado pelos Decretos-Lei n.º 412/98 e 411/99), na alínea c) do artigo 7 do Decreto-Lei n.º 437/91 faz parte a execução de cuidados de enfermagem que integrem processos educativos e que promovam o auto-cuidado do utente. Esta função aponta claramente para a realização de actividades de EpS.


Nos Padrões de Qualidade dos Cuidados de Enfermagem (2001) definidos pela Ordem dos Enfermeiros, é salientada a importância do desempenho do papel de agente de EpS ao referir-se que na procura permanente da excelência no exercício profissional, o enfermeiro ajuda os clientes a alcançarem o máximo potencial de saúde, através de: (1) Identificação da situação de saúde da população e dos recursos do utente/família e comunidade; (2) Criação e aproveitamento de oportunidades para promover estilos de vida saudáveis identificados; (3) Promoção do potencial de saúde do utente através da optimização do trabalho adaptativo aos processos vitais, crescimento e desenvolvimento; e (4) Fornecimento de informação geradora de aprendizagem cognitiva e de novas capacidades pelo utente.


A EpS implica transmitir informação de forma compreensível para a população. Os educadores eficientes também se concentram em dar o feedback e a avaliação apropriados a fim de estimular a aprendizagem (HOCKENBERRY, WILSON e WILKENSTEIN, 2006). Não basta a simples transmissão de informação científica e técnica, culturalmente neutra. É necessária uma verdadeira interpretação da cultura dos indivíduos, considerando os seus conhecimentos prévios, valores e comportamentos (CARVALHO e CARVALHO, 2006), numa sequência de intervenções vão desde

(1) Identificar o que o utente pretende saber;

(2) Determinar o que o utente pretende aprender;

(3) Entender a motivação e aptidão para aprender;

(4) Colher os dados do utente, família e comunidade, tendo em atenção os factores de aprendizagem;

(5)Avaliar os dados de forma a identificar as necessidades de aprendizagem;

(6) Incentivar e promover a participação do utente no processo de aprendizagem e

(7) Ajudar no estabelecimento de prioridades de aprendizagem do utente (PACHECO e CUNHA, 2006).


Torna-se claro que os enfermeiros necessitam de diferentes tipos de competências para um efectivo desempenho do papel de agentes de EpS. De entre as competências específicas definidas por LASH (1990) destacam-se:

(1) escutar activamente os indivíduos e identificar quais as suas convicções acerca da saúde;

(2) criar uma relação de ajuda;

(3) criar interesse e entusiasmo pelo bem-estar dos utentes;

(4)participar com os indivíduos no processo de tomada de decisões;

(5) ajudar a clarificar as escolhas à disposição dos utentes;

(6) desenvolver as suas próprias capacidades de comunicação e aconselhamento;
(7) conferir autoridade quer a si próprios, quer aos utentes e

(8) conseguir que os utentes respondam e se adaptem aos desafios e obstáculos que encontrem.


Posteriormente, AMADO e outros (1999) acrescentam que, com base na sua formação e para optimizar a sua função enquanto agente educador, o enfermeiro deve ser imparcial, deve saber escutar, saber dar suporte, saber guiar, respeitar crenças, valores e atitudes dos utentes, assim como respeitar a autonomia de cada pessoa.


Recorrendo ao léxico da Classificação Internacional para a Prática da Enfermagem (CONSELHO
INTERNACIONAL DE ENFERMEIRAS, 2005), é possível fazer uma reflexão acerca do que deve caracterizar o enfermeiro em EpS. Assim, é primordial saber Interpretar, isto é, compreender as necessidades de saúde da população. Para tal, não basta Informar, ou seja, comunicar alguma coisa ao doente/família. É essencial Educar, ou transmitir conhecimentos pertinentes para a saúde do também importante fornecer a informação sistematizada integrando-a no devido contexto, ou seja, Instruir, de modo a Permitir, ou dar uma oportunidade ao doente/família, de Optimizar a sua saúde, ou seja, obter os melhores resultados em termos de saúde. Neste contexto, assume primordial importância o facto de tornar as coisas compreensíveis e claras, ou Explicar, através do Orientar que é dirigir o doente/família para as melhores decisões relacionadas com a saúde, e também Aconselhar ou, através do diálogo, capacitar os indivíduos a tomar as suas próprias decisões. Para tal, o enfermeiro deve Colaborar, isto é, trabalhar em conjunto com o doente/família, pois só assim consegue Estimular, ou incitar os indivíduos a adoptar comportamentos saudáveis.


Porque ainda se observam dificuldades na assumpção plena do papel de agente de EpS que se exige na prossecução da excelência em Enfermagem, achamos pertinente averiguar de que forma os enfermeiros relatam as suas práticas e comportamentos enquanto agentes de EpS, quais os factores que as influenciam e quais são mais frequentem relatadas.


CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os esforços na Educação para a Saúde devem ser encarado numa perspectiva de cidadania, em que todos os cidadãos têm um papel a desempenhar, mas é consensual que os enfermeiros devem assumir um papel de relevo. Para tal é importante conhecer as práticas e comportamentos de Educação para a Saúde mais frequentemente adoptados pelos enfermeiros, e identificar áreas de formação específicas e prioridades no desenvolvimento de competências. Com este estudo elaborou-se e validou-se a Escala de Práticas e Comportamentos de Educação


Para a Saúde (EPCEPS), que revelou adequada validade dos itens e fidelidade. A estrutura da escala mostrou-se pertinente, e a sua utilização é uma possibilidade para desenvolver o conhecimento das práticas e comportamentos de Educação para a Saúde mais frequentemente adoptados pelos enfermeiros, auxiliando a reflexão sobre as formas de planear e desenvolver acções de desenvolvimento de competências específicas.

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