Mais de 70% dos grandes frequentadores das urgências sofrem de doença crónica


fonte: ionline

Mais de 70 por cento dos "grandes frequentadores" das urgências, com quatro ou mais admissões anuais, recorrem a estes serviços por "descompensação" de doenças crónicas, revelou hoje o coordenador do Núcleo de Estudos de Doenças Auto-Imunes (NEDAI).

A "imagem habitual" dos serviços de urgência é repleta de "doentes idosos que ali recorrem por descompensação de uma doença crónica e de doentes que sofrem de três ou quatro outras patologias igualmente crónicas, com má aderência à terapêutica e problemas sociais", descreveu Luís Campos no II Fórum Internacional sobre o Doente Crónico, que decorre hoje e sábado em Lisboa.

O médico internista adiantou que a resposta que o sistema de saúde dá aos doentes com doenças crónicas é "episódica, reativa", que incentiva o recurso às urgências em vez de incentivar alternativas mais eficientes e adequadas.

O Inquérito Nacional de Saúde 2005/2006 refere que 5,2 milhões de portugueses (54 por cento da população) sofrem de, pelo menos, uma doença crónica, mas há cerca de 2,6 milhões (29 por cento) que sofrem de duas ou mais e cerca de três por cento da população sofrem de cinco ou mais doenças crónicas.

Luís Campos citou um estudo do investigador Miguel Gouveia para mostrar o impacto das doenças crónicas no mercado de trabalho, que pode ter custos muito superiores aos dos cuidados de saúde. Um exemplo é o caso da diabetes.

"Os custos do internamento atribuível à diabetes foram perto de 85 milhões de euros em 2008, mas as saídas precoces do mercado de trabalho custaram à economia portuguesa mais de 324 milhões, ou seja 3,8 vezes mais", frisou.

Segundo o médico internista, apenas 5 por cento das pessoas internadas nos hospitais públicos são responsáveis por 30 por cento do total de dias de internamento, sendo na sua grande maioria doentes crónicos.

Presente no Fórum, a ministra da Saúde, Ana Jorge, afirmou que os serviços de saúde modernos têm de ser capazes de responder de forma eficaz às doenças crónicas apostando na prevenção e cuidados a longo prazo. A alta comissária da Saúde defendeu, por seu turno, que os os cuidados de saúde e a equidade de acesso são fundamentais para o controlo da doença crónica. "A morte antes dos 65 anos por asma ou antes dos 49 por diabetes é exemplo de um padrão dos cuidados de saúde não efetivos em tempo útil. A morte prematura por diabetes é paradigma da deficiência dos cuidados primários e hospitalares e de articulação entre esses dois níveis", frisou Maria do Céu Machado.

Para a médica, o acesso dos doentes deve ser "pelos cuidados primários e não centrados nos hospitais, onde não se faz prevenção de forma organizada, o episódio agudo envolve tecnologia sofisticada e dispendiosa e a alta carece de orientação que previna o reinternamento"

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