Cuidar o doente paliativo



"O Enfermeiro e o saber cuidar na Morte"

Perante o estado actual da sociedade portuguesa, em que se constata o aumento da esperança média de vida, o envelhecimento progressivo da população, o aumento da incidência do cancro, da SIDA e de algumas doenças crónicas, verifica-se um aumento do número de pessoas com doença crónica cujo período de vida é, deste modo, cada vez mais prolongado.

Para acompanhar esta evolução, deparamo-nos com uma constante reorganização das instituições, no sentido de se adaptarem e satisfazerem, da melhor forma possível, as necessidades destas pessoas em fase terminal de vida. Essa mudança exigiu não só profundas alterações no aspecto estrutural e nos recursos, como também nas atitudes e organização dos profissionais de saúde e dos cuidados prestados. Surgem assim os cuidados paliativos assegurados, desejavelmente, por equipas de saúde multidisciplinares (quer nas equipas domiciliárias, nas equipas de unidades de internamento como também nas equipas hospitalares) cujo principal objectivo é manter o conforto e o bem estar da pessoa em fase terminal, tendo em conta a sua dignidade e o seu nível óptimo de saúde.

Nestas equipas, o enfermeiro é, de facto, o elemento que mantém uma relação mais íntima com o doente, pois, para além de permanecer o maior período de tempo próximo da pessoa, é quem lhe presta mais cuidados directos. Desta forma, torna-se o seu melhor conhecedor, identifica as necessidades (físicas, psíquicas, sociais e espirituais) inerentes à situação e procura encontrar os recursos necessários para dar resposta e continuidade à assistência.

Reconhece no doente a sua identidade cultural, social, física, psicológica, económica, etc. Utiliza ao máximo as suas capacidades e verifica qual o impacto da doença na autonomia e qualidade de vida da pessoa/família. Respeita e procura assegurar as suas perspectivas e convicções, promovendo também a sua adaptação física, psíquica e social à doença. Por outro lado, assume uma posição central na equipa de saúde, na medida em que constitui um elo de ligação entre os vários profissionais envolvidos nos cuidados.

Todo o esforço do enfermeiro centra-se no cuidar, no atender o doente holisticamente, recorrendo a meios proporcionados de tratamento e à co-responsabilização da pessoa com doença/família na acção paliativa. Mesmo quando a cura deixa de ser a meta, torna-se prioritário controlar os sintomas, aliviar o sofrimento, promover a autonomia, o conforto e a serenidade, prevenir a solidão, promover o apoio psicológico, espiritual, emocional, a auto-estima, a partilha de emoções e sentimentos e o apoio à família, mesmo durante o luto. Cabe também ao enfermeiro atender à satisfação de outras necessidades destas pessoas, como a ajuda na higiene e na alimentação, a prevenção de complicações (como por exemplo, as úlceras de pressão devido à imobilidade) e o tratamento da dor.

A dor é realmente o sintoma mais frequente e aquele que mais aflige a pessoa em fase terminal, provocando sofrimento e interferindo com o seu bem estar e com o relacionamento com o que a rodeia. Ao manifestar-se de forma persistente, a dor torna-se o centro da sua atenção. É um problema que exige intervenção dos enfermeiros no sentido de ajudar a controlar e evitar, tentando, por um lado, perceber quais as causas orgânicas e/ou psicológicas responsáveis pela dor e, por outro, garantir a administração de analgésicos prescritos e a adopção de outras atitudes terapêuticas. A actuação dos enfermeiros envolve, portanto, cuidados preventivos, terapêuticos e de suporte, sendo todos eles, planeados, executados e constantemente avaliados para melhor os adequar à resolução dos problemas.

No entanto, importante será referir que estes cuidados são complexos, exigentes e por vezes stressantes, pois envolvem a gestão de aspectos emocionais do doente/família e do próprio enfermeiro.

Contornando as dificuldades, o enfermeiro é um elemento basilar duma equipa de cuidados paliativos, cujo objectivo passa por ajudar a alcançar a melhor qualidade de vida possível da pessoa com doença, e da sua família, até ao término da sua vida.

fonte: Ordem dos Enfermeiros
Almarim Silva CSRG
Marina Silva HDES

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