Conheças as sequelas de quem recupera de Covid-19


“Salvamos a vida mas não salvamos a saúde destes doentes”. Quem o diz é o médico João Ribeiro, director do Serviço de Medicina Intensiva do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, falando das sequelas que a Covid-19 deixa nos pacientes que recuperam. Outros especialistas apontam possíveis lesões no cérebro, no coração e nos pulmões, mas só daqui a vários meses é que será possível avaliar as sequelas na sua verdadeira extensão.

A recuperação de Covid-19 nas pessoas que eram saudáveis, aquando da infecção, pode ser quase total, sem deixar sequelas duradouras, nem evidentes. Mas nos casos mais graves, sobretudo de pessoas com problemas de saúde anteriores, essas sequelas podem ser graves e para toda a vida, conforme analisam especialistas médicos portugueses que falam de eventuais problemas permanentes no cérebro, no coração e nos pulmões.

“Vamos percebendo pela experiência de outros países que uma parte considerável das pessoas saudáveis — sobretudo sem doença pulmonar obstrutiva crónica, tabagismo ou problemas cardíacos — recupera sem sequelas“, aponta ao Expresso o médico Kamal Mansinho, responsável do Serviço de Doenças Infecciosas do Hospital Egas Moniz, em Lisboa, frisando ainda que “80% das pessoas infectadas são assintomáticas”.

Mas nos casos graves de pacientes que precisam de internamento em Cuidados Intensivos, o cenário é mais negativo. “Em medicina intensiva, muitos dos mecanismos defensivos que nos protegem das agressões externas ficam interrompidos pelo próprio tratamento. O metabolismo das células altera-se, quase como que activando uma programação negativa do organismo”, explica ao Expresso o médico João Ribeiro, director do Serviço de Medicina Intensiva do Hospital de Santa Maria, em Lisboa.


“Os cateteres invadem a barreira que é a pele, há um tubo na traqueia, uma sonda para alimentação, algália… Alguns doentes, inevitavelmente, vão sofrer outras infecções, perda da massa muscular, maior risco renal e hepático, menor oxigenação do sangue, menos resistência ao esforço ou enfraquecimento do sistema imunológico no geral, podendo persistir adormecido durante muitos meses”, constata ainda João Ribeiro. “Salvamos a vida, mas não salvamos a saúde destes doentes“, conclui.
Doentes cardíacos graves com “probabilidade muito elevada de não sobreviver"

No caso de pessoas com problemas cardiovasculares prévios à infecção, o próprio prognóstico de vida é mais reservado. “Dentro das morbilidades, são quem tem uma maior mortalidade a seguir aos idosos com mais de 80 anos”, explica ao Observador o presidente da Sociedade Portuguesa de Cardiologia (SPC), Victor Gil.

A vice-presidente da SPC, Regina Ribeiras, acrescenta na mesma publicação que os doentes cardiovasculares mais graves terão “um percurso clínico péssimo” caso fiquem infectados com o coronavírus, com “muitas complicações” e “uma probabilidade muito elevada de não sobreviver”.

“As pessoas estão a respirar mal, têm menos oxigénio no sangue e isso pode indirectamente criar condições para que as pessoas tenham um enfarte secundário. E quem tem placas nas artérias coronárias [depósitos de gordura ou tecido fibroso nas artérias que fornecem sangue ao coração] também pode ter um enfarte do miocárdio“, alerta ainda Victor Gil.

Regina Ribeiras explica também que “a inflamação do miocárdio provocada por este vírus é bastante exuberante”, com uma lesão “muito marcada e muito intensa”. “A generalidade das pessoas que precisa de internamento sofre realmente uma lesão cardíaca, mas não é tão extensa e parece não deixar sequelas nem limitações no dia-a-dia”, salienta porém.

Contudo, quando o quadro clínico do paciente piora, com uma “situação de lesão cardíaca generalizada, dificilmente há recuperação“, destaca a vice-presidente da SPC, notando que o organismo experimenta, nessa condição, uma “tempestade de citocinas”. Mais de 85% dos doentes que sofrem esta lesão acabam por morrer, de acordo com a cardiologista.



Até andar se pode tornar difícil devido a lesões nos pulmões

Nos pulmões pode haver sequelas permanentes para os pacientes que passaram por Cuidados Intensivos, como explica ao Observador João Cardoso, director do serviço de pneumologia do Centro Hospitalar de Lisboa Central (CHLC) e professor na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa.

“O sistema imunológico quer combater o vírus, mas se não está a ser capaz de o fazer, causa lesões estruturais no pulmão, que são como danos colaterais da batalha do nosso organismo contra o invasor”, destaca este médico, frisando que “nas pessoas que estiverem ventiladas, a probabilidade de ficarem com essas lesões é maior”.

“O vírus ao desencadear a tempestade de citocinas, que o organismo produz em excesso ao tentar defender-se do vírus e agredindo também os próprios tecidos, aumenta a coagulação do sangue, podendo gerar embolia pulmonar. E já tivemos um caso”, diz ainda no Expresso Kamal Mansinho.

A forma de o pulmão regenerar após a “batalha” contra o vírus é cicatrizando as regiões destruídas. “Essa cicatrização forma uma fibrose, um sinal de que aconteceu uma lesão. Esta recuperação pulmonar faz-se à custa de grandes zonas de fibrose pulmonar. Nas pessoas que estiveram nos cuidados intensivos, essas zonas podem ser extensas e significativas”, alerta ainda João Cardoso.

Nas situações mais graves, os recuperados podem ficar com uma “limitação de actividade mais vigorosa até uma fase de incapacidade quase total para a execução de esforços mesmo que limitados”, destaca no Observador Carlos Robalo Cordeiro, director da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra e director do serviço de pneumologia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra. Nestes casos, correr ou caminha de forma mais acelerado pode tornar-se impossível e até andar pode ser difícil.

“Há uma percentagem significativa de doentes mais graves em que a agressão pulmonar evolui para algo ainda pior: a síndrome de dificuldade respiratória aguda, uma resposta inflamatória exuberante no pulmão — com espaços que colapsam, com a destruição da barreira alveolar — que só por si vai condicionar sequelas futuras”, acrescenta a Margarida Tavares, do Hospital de São João, no Porto, em declarações ao Expresso.



Falta de paladar e de olfacto indiciam efeitos neurológicos


Também há sinais de que o coronavírus pode afectar o Sistema Nervoso Central, deixando sequelas neurológicas, como explica ao Observador a presidente da Sociedade Portuguesa de Neurologia, Isabel Luzeiro.

“A falta de paladar (ageusia) e de olfacto (anosmia), de que alguns pacientes se queixam como sintoma da doença, é um sinal de que foram afectados alguns dos nervos cranianos”, explica Isabel Luzeiro.

“Durante a fase aguda, o vírus pode ainda provocar, em cerca de 16% dos casos, dores de cabeça e tonturas; e mais raramente, pode até acontecer perda de consciência”, acrescenta, frisando que “a falência respiratória súbita pode também ser devida à falência dos centros respiratórios do cérebro, o que é relativamente raro”.

“É possível que a reacção inflamatória que o vírus desperta possa ser também um factor a contribuir para o dano do sistema nervoso“, salienta ainda, notando que isso pode dever-se à “tempestade” de substâncias que se despoleta com efeitos prejudiciais para o cérebro.

Esta especialista nota que este processo pode causar “uma inflamação do cérebro — as encefalites” que podem originar “crises epilépticas” e “encefalopatias”, podendo provocar situações de “confusão mental grave” e “falência multiorgânica”.

“Algum tempo após a recuperação dos doentes, é também possível que surja a síndrome de Guillain-Barré, uma paralisia de carácter ascendente, que surge quando o sistema imunitário ataca o sistema nervoso periférico”, salienta Isabel Luzeiro, frisando que “os afectados começam a deixar de andar e, em casos extremos, podem deixar de conseguir respirar de forma autónoma, de falar e de movimentar os olhos”. “Nestes casos, os doentes podem necessitar de imunoterapia dirigida, mas a recuperação pode tardar semanas”, sustenta.

“Outras sequelas podem ser os problemas de memória, alterações cognitivas e microenfartes cerebrais“, diz ainda a presidente da Sociedade Portuguesa de Neurologia, referindo também o eventual aparecimento de “problemas psiquiátricos graves” com ansiedade, stress, depressão e pânico.

“Alguns estudos indicam que o vírus pode provocar também um aumento de doenças neurológicas e auto-imunes”, acrescenta no Expresso o pneumologista e consultor da Direção-Geral da Saúde, Filipe Froes.

Isabel Luzeiro também destaca a possibilidade de surgir atrofia muscular nos pacientes que estiveram internados, mesmo que não o tenham estado por muito tempo, o que pode indiciar eventuais sequelas neurológicas do coronavírus. “Isso traz problemas graves, como dificuldades em caminhar e perda de autonomia motora. Estes doentes precisam de reabilitação”, constata.

fonte: ZAP //
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